Naquela tarde de 15 de Abril de 1994 começou a carnificina. À noite os assassinos foram embora mas voltaram no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte... com mais refugiados e os facões entre os dentes. Mais de 10 mil pessoas morreram em Nyarubuye; 2.000 corpos jaziam na Igreja.
Valentina, seguindo o instinto maternal, escondeu-se entre aqueles cadáveres, junto a sua mãe e fingiu estar morta. Antes disso tinha recebido muitos golpes, uma machadada na cabeça e quatro dedos da mão direita quebrados. O sangue e calma eram o melhor de seus disfarces e o que lhe salvou a vida.
Quatro dias ela ficou quase sem se mover, segurando a respiração ao menor movimento; sempre agasalhada pelos corpos de sua própria família e bebendo a suja água da chuva que gotejava pelas feridas da própria igreja. Presa ao pânico, seus escassos movimentos eram calculados no compasso do silêncio do inimigo.
"... era muito tarde, ao redor das 2:00 da madrugada, quando os hutus voltaram. Se encontravam alguém com vida, esmagavam sua cabeça com pedras. Vi como golpeavam -uma contra outra- as cabeças de dois irmãos conhecidos até sua morte. Um deles calcou minha cabeça. Agitou seu pé para ver se eu estava viva. Disse, 'Esta tá morta', e se foi. Vivi entre os mortos por um longo tempo. Pela noite, os cães vinham comer os corpos. Uma vez notei que um cão estava comendo alguém do meu lado. Atirei-lhe algo e fugiu enquanto os soldados vigiavam o perímetro para que ninguém escapasse. Escondi-me em uma dependência menor e com menor número de cadáveres. Ali foi onde cochilei e aguentei durante 43 dias." - Valentina Iribagiza
Valentina passou sua quarentena mais difícil entre cadáveres, amparada pela morte que tanto temia. Seu refúgio e sua defesa eram os corpos putrefatos de toda a comunidade junto a qual ela tinha crescido e a que seguia vendo dia a dia, mas agora com as pálpebras fechadas para sempre.
Seu corpo, maltratado a golpes e feridas (mal podia se arrastar), estava se descompondo em vida, infestando-se de larvas, piolhos e toda a ferrugem que precede a morte. Com muita dignidade e consciência, esperava o espreito da mais temido das passagens; afinal de contas nada poderia ser pior que aquele inferno. Consolava-se.
Na manhã do quadragésimo terceiro dia um soldado da "Interahamwe" entrou na igreja e topou, em um descuido, com uma Valentina viva, mas semi-consciente e abatida. Levantou-a com uma mão só e disse: "Chegou tua hora. Vou enforcar você e deixá-la no mesmo lugar". O único resquício de sorte na vida de Valentina ocorreu quando mais precisava. Um grupo de militantes do FPR, acompanhados de um soldado francês, interrompeu a manobra do selvagem e resgatou à menina de sua última batalha com a morte. Levaram Valentina a Kibungo, onde passou mais de seis meses no hospital se recuperando das terríveis feridas.
Valente Valentina!
Valentina, seguindo o instinto maternal, escondeu-se entre aqueles cadáveres, junto a sua mãe e fingiu estar morta. Antes disso tinha recebido muitos golpes, uma machadada na cabeça e quatro dedos da mão direita quebrados. O sangue e calma eram o melhor de seus disfarces e o que lhe salvou a vida.
Quatro dias ela ficou quase sem se mover, segurando a respiração ao menor movimento; sempre agasalhada pelos corpos de sua própria família e bebendo a suja água da chuva que gotejava pelas feridas da própria igreja. Presa ao pânico, seus escassos movimentos eram calculados no compasso do silêncio do inimigo.
"... era muito tarde, ao redor das 2:00 da madrugada, quando os hutus voltaram. Se encontravam alguém com vida, esmagavam sua cabeça com pedras. Vi como golpeavam -uma contra outra- as cabeças de dois irmãos conhecidos até sua morte. Um deles calcou minha cabeça. Agitou seu pé para ver se eu estava viva. Disse, 'Esta tá morta', e se foi. Vivi entre os mortos por um longo tempo. Pela noite, os cães vinham comer os corpos. Uma vez notei que um cão estava comendo alguém do meu lado. Atirei-lhe algo e fugiu enquanto os soldados vigiavam o perímetro para que ninguém escapasse. Escondi-me em uma dependência menor e com menor número de cadáveres. Ali foi onde cochilei e aguentei durante 43 dias." - Valentina Iribagiza
Valentina passou sua quarentena mais difícil entre cadáveres, amparada pela morte que tanto temia. Seu refúgio e sua defesa eram os corpos putrefatos de toda a comunidade junto a qual ela tinha crescido e a que seguia vendo dia a dia, mas agora com as pálpebras fechadas para sempre.
Seu corpo, maltratado a golpes e feridas (mal podia se arrastar), estava se descompondo em vida, infestando-se de larvas, piolhos e toda a ferrugem que precede a morte. Com muita dignidade e consciência, esperava o espreito da mais temido das passagens; afinal de contas nada poderia ser pior que aquele inferno. Consolava-se.
Na manhã do quadragésimo terceiro dia um soldado da "Interahamwe" entrou na igreja e topou, em um descuido, com uma Valentina viva, mas semi-consciente e abatida. Levantou-a com uma mão só e disse: "Chegou tua hora. Vou enforcar você e deixá-la no mesmo lugar". O único resquício de sorte na vida de Valentina ocorreu quando mais precisava. Um grupo de militantes do FPR, acompanhados de um soldado francês, interrompeu a manobra do selvagem e resgatou à menina de sua última batalha com a morte. Levaram Valentina a Kibungo, onde passou mais de seis meses no hospital se recuperando das terríveis feridas.
Valente Valentina!
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